Após início das investigações, condenado por furto de armas do Exército procurou no Paraguai metralhadoras desaparecidas

  • 13/06/2025
(Foto: Reprodução)
Motorista de aplicativo é apontado como intermediário na venda de armamento desviado do Arsenal de Guerra de Barueri entre militares e traficantes em setembro de 2023. Esquema do furto de armas do exército Gabriel Andrade/Bruno Balota Um dos nove condenados pela participação no desvio e venda de armas do Arsenal de Guerra do Exército, em Barueri (SP), afirmou, em depoimento à Justiça Militar, que as duas metralhadoras calibre .50 —ainda desaparecidas do arsenal— possivelmente foram levadas para o Paraguai. A Justiça Militar condenou quatro militares e cinco civis pelo furto e comercialização de armamentos. Na época do desvio, em setembro de 2023, o investigado Altoniel Salvador Almeida trabalhava como motorista de aplicativo e é apontado como um dos intermediários nas negociações do armamento entre militares e traficantes. O trabalho de investigação mostrou que Altoniel foi até o Paraguai para tentar encontrar as armas, o que foi confirmado durante interrogatório. Segundo ele, a pessoa que o procurou “pedindo ajuda” para intermediar negociações com possíveis compradores não informou que as armas eram do Exército e que, ao se dar conta da repercussão, tentou reaver as armas para não sofrer tantas consequências de sua participação. A decisão da Justiça Militar de condenou quatro militares e cinco civis foi em resposta a uma denúncia feita pela 2ª Procuradoria de Justiça Militar. Os militares furtaram 22 armas do arsenal, sendo 21 metralhadoras e um fuzil (leia mais abaixo). Vinte armas foram recuperadas pelas Polícias Civis de São Paulo e Rio de Janeiro, mas duas seguem desaparecidas. O Comando Militar do Sudeste afirma que após o furto "houve uma rigorosa revisão dos procedimentos e condutas de segurança em relação a áreas de custódia de armamentos e controles de acessos, visando a mitigar ocorrências envolvendo este tipo de material", e que está comprometido em apurar o caso, "apoiando a Justiça Militar naquilo que for necessário, bem como em recuperar a totalidade do armamento furtado". Reunião em padaria e ida ao Paraguai A investigação apontou que, dias após o furto de armas, Altoniel foi procurado por André Fernandes de Oliveira, que lhe deu R$ 10 mil em dinheiro. O encontro aconteceu em uma padaria na cidade de Osasco. Segundo Altoniel, André tinha uma dívida antiga com ele no valor de R$ 48 mil e o procurou dizendo que tinha duas metralhadoras calibre .50 para vender, pedindo ajuda para encontrar um comprador. Consta da decisão à qual a GloboNews teve acesso que “Altoniel passou o contato de uma pessoa conhecida como ‘Saci’, que morava na cidade de Paranhos (MS), divisa com o Paraguai”, e ainda “tendo as armas tomado destino certo em 13 de setembro de 2023. Saci vendeu essas armas do AGSP [Arsenal de Guerra de São Paulo] no Paraguai”. Segundo o motorista de aplicativo, André negou que as armas eram do Exército. Em depoimento, o motorista de aplicativo admitiu à Justiça Militar que tentou reaver as armas porque foi procurado pela Polícia Civil. “Eles vieram me revisitar aqui, entendeu? Vieram com um monte de fotos de pessoas, até do pessoal que eu conheço aqui de vista. E vieram falando, 'você tá em tal tempo e tal lugar, lá dentro do Paraguai'. Eu falei 'tava, sim'. Porque meu telefone, eu não sei, acho que eles devem ter puxado pelo telefone, e viram que realmente tentei até localizar as armas. Só que, porém, a pessoa que era meu contato, o Saci, falou que o comprador sumiu, foi preso, está foragido, então não tenho mais contato com o Saci.” Segundo Altoniel, as metralhadoras interessariam “qualquer narcotraficante” por ser “uma arma superpotente”. 👉 Em alegações finais, a defesa do acusado pediu a absolvição do cliente, alegando não existir prova suficiente para a condenação e que - em caso de condenação, fosse reconhecida a “participação de menor importância”, com fixação do regime semiaberto e o direito de apelar em liberdade. A Justiça Militar, no entanto, condenou o réu pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito a 18 anos de prisão no regime fechado, além de multa. A GloboNews procurou a defesa de Altoniel, mas até esta publicação ninguém foi localizado. O furto A investigação apontou que foram furtadas do Arsenal de Guerra do Exército de Barueri ao todo 22 armas. São elas: 13 metralhadoras .50 M2 HB Browning; 8 metralhadoras 7,62 M971 MAG; e fuzil 7,62 M964. O Exército diz que o fuzil é considerado um simulacro, porque que estava sem mecanismo de disparo. Das 22 armas desviadas, duas metralhadoras (calibre .50 HB Browning) ainda não foram encontradas. Outras 20 armas foram recuperadas em ações das polícias civis de São Paulo e do Rio: Oito foram apreendidas no dia 19 de outubro do ano passado, na Comunidade da Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio: 4 metralhadoras .50 e 4 metralhadoras 7,62 MAG Três foram apreendidas no dia 01 de novembro do ano passado na Praia da Reserva, Zona Oeste do Rio: 2 metralhadoras .50 e 1 fuzil calibre 7,62. Nove foram apreendidas em São Roque, interior de São Paulo: 4 metralhadoras 7,62 MAG e 5 metralhadoras calibre .50 Vídeo que mostra 4 metralhadoras foi enviado ao Exército para inquérito que apura furto Dinâmica do furto Em fevereiro de 2024, o g1 e a globonews já tinham mostrado que, durante cinco meses de investigação, o Exército confirmou que o furto ocorreu em 7 de setembro de 2023, feriado da Independência e data em que as tropas estão dedicadas a desfiles pelo país. O crime só foi trazido a público no dia 10 de outubro. O inquérito militar apontou que dois cabos arrombaram o depósito onde estavam as 22 armas entre 14h30 e 15h. A dinâmica foi traçada por meio da análise de câmeras de segurança e uso de sistema de rastreamento. Esquema do furto de armas do exército Gabriel Andrade/Bruno Balota As metralhadoras estavam no depósito da reserva de armamento da seção de recebimento e expedição de material do Arsenal de Guerra de São Paulo. Para terem acesso às armas, os cabos arrombaram o cadeado e o lacre que preservavam o local e desarmaram o alarme que o protegia por meio do desligamento dos disjuntores do pavilhão onde ficava o depósito. Um dos cabos Vagner da Silva Tandu, motorista do então diretor do arsenal, estacionou a caminhonete tipo picape do comandante próxima ao local e, com a ajuda do outro cabo - Felipe Ferreira Barbosa -, colocaram as armas na caçamba, escondendo o arsenal com a capa da parte traseira do veículo. Após colocarem as armas no veículo, a investigação apontou que o cabo Tandu assumiu a direção da caminhonete e deixou o depósito da reserva de armamento. Já o cabo Felipe Barbosa ficou no local, inseriu novos cadeados e lacre. Ainda de acordo com o inquérito, a saída do veículo ocorreu sem nenhuma intercorrência porque o primeiro-tenente Cristiano Ferreira deu ordens para que a viatura do diretor nunca fosse revistada na guarda do quartel, o que contraria os regulamentos internos do Exército. Assim, os cabos aproveitaram a brecha na revista e conseguiram que o veículo carregado com as armas furtadas saísse do local com facilidade, sem fiscalização. A investigação, no entanto, não comprovou a ligação direta do primeiro-tenente no furto, assim como do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, então diretor da unidade. Negociação com crime organizado O inquérito aponta que as armas foram oferecidas à facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV), mas não houve aliciamento dos criminosos. Os cabos, de acordo com a investigação, furtaram as metralhadoras e depois as ofereceram para os traficantes com a ajuda de receptadores, e que lucrariam com a venda. Uma novidade que aparece no processo é que, após deixarem a unidade militar na tarde do dia 7 de setembro, os cabos se dirigiram a cidade de Jandira, na região metropolitana, em local "ainda não identificado". Lá, o cabo Felipe Ferreira Barbosa desembarcou 12 das 21 metralhadoras, além de um fuzil. Já o cabo Vagner da Silva Tandu seguiu na caminhonete do então diretor do Arsenal de Guerra em direção à oficina de um dos denunciados por receptação —identificado como Silvio Simões Silva, na cidade de Itapevi. Imagem aérea mostra estrutura do Arsenal de Guerra de São Paulo em Barueri Reprodução/Exército brasileiro Na oficina, as armas foram então apresentadas para Jonathan dos Santos, primo do cabo Tandu, que recebeu as nove armas restantes. O armamento, consta do processo judicial, foi conferido e depois desmontado por Jonathan. As peças ficaram separadas no chão da oficina. Na sequência, o cabo Tandu foi embora e, de acordo com um depoimento citado na ação, disse que precisava voltar para o quartel para concluir o turno. Jonathan foi embora na sequência. Já Silvio Simões, ainda de acordo com a investigação, entregou as armas para André Fernandes de Oliveira e Jessé Fidelix (conhecido como "Capixaba) pouco antes do anoitecer. Capixaba afirmou que pagaria R$ 120 mil por cada metralhadora calibre .50 e R$ 50 mil para cada metralhadora calibre 7,62 MAG. Reclamações por falta de peças e entrega em duas remessas Na madrugada do dia seguinte, 8 de setembro, após verificar que as armas estavam sem algumas peças e apresentavam problemas, um dos traficantes - André Fernandes de Oliveira - entrou em contato com Silvio Simões, que repassou a reclamação ao cabo Vagner da Silva Tandu. Em 11 de setembro, o cabo Tandu retornou à oficina em Itapevi e entregou as outras12 metralhadoras e o fuzil, que antes estavam em posse do cabo Felipe Ferreira Barbosa. As armas da segunda remessa serviriam para completar as outras metralhadoras. Dessas 13 armas, três metralhadoras e o fuzil foram repassados para os traficantes. As outras nove continuaram na oficina. Destino das armas Parte das armas ficou no estado de São Paulo, e o restante enviado para o Rio de Janeiro. Nove delas, sendo cinco metralhadoras calibre .50 e quatro metralhadoras calibre 7,62 MAG, foram guardadas em um primeiro momento na oficina de Silvio Simões, em Itapevi, no interior paulista. O plano era enviar o armamento para o Paraguai e vendê-las. Até o transporte para o país vizinho, outro investigado - William Cunha, apontado como comparsa de Silvio Simões - ofereceu um sítio em São Roque para guardar as armas. A investigação aponta que William teria garantido que o local era alugado por uma pessoa de muita confiança, a quem "considerava como um pai", e que era mais seguro. Em 20 de outubro, no entanto, o armamento foi recuperado pela Polícia Civil de São Paulo. Uma denúncia anônima indicou à Polícia Civil de São Paulo que William Cunha chegou a falar sobre as armas para convidados durante um churrasco, uma semana depois, no dia 28 de outubro e disse onde estariam as peças, possivelmente as que foram levadas para o Rio. Ao todo, 13 armas foram levadas para o Rio de Janeiro: 11 delas foram recuperadas em duas ocasiões (19 de outubro e 01 de novembro). Duas ainda não foram localizadas. A Justiça Militar, até o momento, entendeu que as informações passadas em depoimentos confirmam outros elementos apurados pelo IPM, como destino das metralhadoras, número de armas, locais e datas. Participação direta e indireta Em fevereiro de 2024, o Exército concluiu a investigação sobre o furto das armas do Arsenal de Guerra do Exército e indicou a participação de pelo menos oito pessoas no desvio de metralhadoras e fuzis em setembro do ano passado. As condenações da Justiça Militar divide os militares pela participação direta no furto ou indireta, por inação ou negligência, entre eles o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, então diretor da unidade, além de um primeiro-tenente e dois cabos: Participação direta: VAGNER DA SILVA TANDU, cabo do Exército Brasileiro: condenado a 17 anos e 4 meses de prisão no regime fechado por peculato e furto, em concurso com o cabo Felipe Ferreira Barbosa FELIPE FERREIRA BARBOSA, cabo do Exército Brasileiro: condenado a 17 anos e 4 meses de prisão no regime fechado por peculato e furto, em concurso com o cabo Vagner da Silva Tandu Os cabos Tandu e Barbosa foram licenciados do Exército em 1º de março de 2024 e permanecem presos até o julgamento da apelação, caso entrem com o recurso ao STM. Participações no furto de armas do exército Gabriel Andrade/Bruno Balota Participação indireta: RIVELINO BARATA DE SOUSA BATISTA, tenente-coronel e então diretor do Arsenal de Guerra do Exército de Barueri: condenado por inobservância de lei, regulamento ou instrução, cometida por negligência à pena de suspensão do exercício do posto pelo prazo de seis meses, mas com direito de apelar em liberdade. A GloboNews apurou que ele só cumprirá a pena de suspensão após o julgamento do recurso de apelação pelo STM. Neste momento, está lotado no Comando da 2ª Região Militar, em São Paulo. CRISTIANO FERREIRA, primeiro-tenente do Exército: condenado por inobservância de lei, regulamento ou instrução, cometida por tolerância, e por peculato culposo, à pena de nove meses de detenção, convertida em pena de prisão. Em caso de exclusão das fileiras do Exército Brasileiro, fica fixado o regime aberto para o cumprimento pena. Até o julgamento do recurso de apelação pelo STM, permanecerá em liberdade. Está afastado por determinação médica, segundo o Exército. CIVIS Além dos quatro militares, cinco civis foram condenados por comércio ilegal de arma de fogo. Parte deles tem conexões facção criminosa Comando Vermelho. Um sexto investigado também foi citado no inquérito militar, mas morreu em troca de tiros com forças de segurança em uma ação distinta à investigação sobre o furto das armas. Outros dois civis foram investigados, mas posteriormente absolvidos pela Justiça Militar SILVIO SIMÕES SILVA, condenado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo a 14 anos, 4 meses e 24 dias de prisão no regime fechado, além de multa. WILLIAM CUNHA SANTOS, condenado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo a 18 anos de prisão no regime fechado, além de multa. JESSER MARQUES FIDELIX, condenado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo a 18 anos de prisão no regime fechado, além de multa. CLÁUDIO ALDO FERREIRA, condenado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito a 18 anos de prisão no regime fechado, além de multa. ALTONIEL SALVADOR ALMEIDA, condenado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito a 18 anos de prisão no regime fechado, além de multa. ANDRÉ FERNANDES DE OLIVEIRA: foi citado no inquérito militar e investigado, mas morreu em troca de tiros com a Polícia Militar da Bahia, na cidade de Jequié (BA), em 13 de dezembro de 2023, em ação distinta à investigação sobre o furto das armas. Por isso, foi declarada a extinção de sua punibilidade. Foram absolvidos: JONATHAN NAYLTON DOS SANTOS, denunciado por receptação LUIS CLÁUDIO SEVERO DOS SANTOS, denunciado pelo crime militar de comércio ilegal de arma de fogo O Comando Militar do Sudeste afirma que após o furto "houve uma rigorosa revisão dos procedimentos e condutas de segurança em relação a áreas de custódia de armamentos e controles de acessos, visando a mitigar ocorrências envolvendo este tipo de material", e que está comprometido em apurar o caso, "apoiando a Justiça Militar naquilo que for necessário, bem como em recuperar a totalidade do armamento furtado". Expulsão após condenação Mesmo condenados, nem todos os militares são expulsos automaticamente do Exército. Os processos precisam ter tramitado até o trânsito em julgado, ou seja, sem mais possibilidade de recursos. No caso dos militares com posto de soldado até sub-tenente, para que ocorra a expulsão é necessária a condenação com pena superior a dois anos. Para oficiais, de tenente a general, a pena mínima é a mesma, mas a expulsão deverá ser analisada pelo Conselho de Justificação e passar por julgamento do Superior Tribunal Militar (STM), após ação de Incompatibilidade para com o Oficialato, impetrada pelo Ministério Público Militar. Furto de armas do Arsenal de Guerra do Exército aconteceu à luz do dia

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/06/13/condenado-por-furto-de-armas-do-exercito-procurou-no-paraguai-metralhadoras-desaparecidas-apos-inicio-das-investigacoes.ghtml


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