Pai e a mãe de menina dada como morta devem ser ouvidos juntos para sanar contradições, diz polícia
07/11/2025
(Foto: Reprodução) Pai pede direito de conviver com a filha na Justiça em Águas Lindas de Goiás
A polícia pretende colocar frente a frente os pais biológicos da criança de 2 anos e 8 meses que foi dada como morta pela mãe e depois entregue para ser registrada por um casal, disse a delegada Tamires Teixeira, responsável pelo caso. Segundo ela, o objetivo é que os dois prestem depoimentos juntos para a polícia tentar sanar as contradições que existem dos dois lados.
A defesa do pai biológico afirma que a mãe ocultou a morte da menina e a entregou para ser registrada mesmo sabendo de quem era a paternidade. Já as defesas da mãe biológica e do pai registral alegam que não houve má-fé porque acreditava-se que a criança era filha do rapaz que registrou, com quem a mãe teria tido um caso. Leia o que dizem as defesas ao final da reportagem.
🔎 Pai registral é o homem que aparece na certidão de nascimento, reconhecido pela lei como pai da criança.
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O pai da menina, o ajudante de obras Floriel Pires Maciel, de 24 anos, luta na Justiça para obter a sua guarda há cerca de dois anos, depois de ter descoberto que a menina estava viva e que era sua filha. Ele já tem a guarda de outro filho, de 5 anos, que teve com a ex-companheira. A caçula mora com o casal para quem ela foi entregue, pela mãe, e só convive com o pai biológico três horas por semana, por determinação judicial.
Floriel Pires Maciel luta na justiça pela guarda da filha de 2 anos e 8 meses, em Goiás
Arquivo pessoal
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Segundo a delegada Tamires Teixeira, o caso é muito complexo e, até o momento, não foi constatado nenhum crime. Além dos pais biológicos, foi ouvida uma tia da mãe da criança, que confirmou a versão da sobrinha. Por enquanto, as investigações que estão em andamento na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM) de Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal, apontam para um problema familiar.
"Até o momento, a gente não vê nenhum crime, segundo o que a gente tem nos autos. O que eu vejo mais aí é realmente um conflito muito complexo de família", disse a delegada.
Entre as contradições citadas pela delegada estão a ausência de registros que comprovem o histórico de violência doméstica alegada pela mãe, que pediu à reportagem para não ser identificada, e o histórico de maus-tratos, por parte da mãe, informado pelo Floriel.
"A gente está pensando em fazer uma acareação entre as partes porque nenhuma delas tem provas documentais. Como tem muita contradição entre os depoimentos, a gente precisa ver as partes cara a cara, para ver o que vai acontecer", afirmou Tamires.
A delegada contou que Floriel e a ex falaram a mesma coisa que narraram em entrevista ao g1: eles tiveram um relacionamento conturbado, com muitas idas e vindas. Em uma dessas vezes, a mulher acabou engravidando. Floriel afirmou, porém, que ela lhe disse que o filho era de outro homem. Quando ela teve a criança, os dois não estavam mais juntos.
Ao g1, o jovem disse que, no dia seguinte ao do nascimento da menina, a mãe dele ligou para a ex-nora para saber como a bebê estava e ela disse, chorando, que a bebê tinha morrido. Cerca de 2 a 3 meses depois, Floriel encontrou por acaso, na rua, uma prima da ex e o seu esposo segurando uma criança de idade semelhante e ele desconfiou que poderia ser sua filha. Segundo ele, após envolver a polícia militar e o Conselho Tutelar de Águas Lindas, a ex confessou ter mentido sobre a morte da criança.
Em entrevista ao g1, a ex afirmou que mentiu porque tinha medo de Floriel porque teria sido vítima de violência doméstica quando conviveu com ele. O rapaz nega que isso tenha acontecido. Além disso, a jovem nunca registrou ocorrência, mas, segundo ela, também por medo.
Segundo a delegada Tamires, não há medida protetiva expedida contra Floriel. O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) informou à reportagem que Floriel aparece em três processos judiciais, na Vara de família, mas nenhum deles é contra ele. Em todos, ele aparece como autor.
Apuração de má-fé
A delegada Tamires explica que a investigação policial apura exclusivamente se houve crime em relação ao registro da criança feito pelo casal no cartório. Segundo ela, até agora não foi comprovada má-fé nem por parte da mãe e nem pelos pais registrais.
"Ela tinha um relacionamento com esse outro rapaz (que registrou a criança). Ela ficava com ele. Então, o que ela fala é que ela tinha dúvidas (sobre a paternidade). E ela foi falar com esse rapaz, que prontamente quis assumir a criança. Aí a criança nasceu, e ele registrou acreditando que seria filha dele", disse a delegada.
O que dizem os advogados
Ao g1, Raquel Gomes, advogada de Floriel, disse que a mãe da criança nunca teve um caso com o esposo da prima. "Só depois que viram que podem responder por isso que começaram a inventar mentiras e a dizer que tiveram um caso e até que a mãe teve depressão pós-parto. Agora, vão falar o que for necessário para enquadrar a história apenas em uma confusão familiar", afirmou.
A advogada disse, ainda, que a jovem mentiu sobre a morte da bebê para afastá-lo de vez, para nunca desconfiarem. "Tudo isso já foi explicado no boletim de ocorrência", afirmou.
Já a defesa da mãe da bebê disse que o casal registrou a criança por entender que o homem era o pai. "Então, o pai da referida ficou com a guarda de fato", disse o advogado.
Ilvan Silva Barbosa, advogado do pai registral, disse que "o registro de nascimento foi realizado de boa-fé" porque a mãe da bebê havia dito que ela era fruto de um relacionamento que os dois tiveram (Leia a nota completa da defesa no final desta reportagem).
Nota completa da defesa do pai registral
"É importante esclarecer que ele não recebeu a criança de forma clandestina, tampouco participou de qualquer ocultação. O registro de nascimento foi realizado de boa-fé, após ter sido informado pela própria genitora de que o bebê era fruto de um breve relacionamento entre ambos.
A defesa entende que ele foi induzido em erro, acreditando sinceramente ser o pai biológico. Há fortes indícios, inclusive, de que a própria mãe também desconhecia a real paternidade biológica naquele momento.
Hoje, a criança vive com o pai registral desde o nascimento, mantendo com ele um vínculo afetivo sólido, pleno e saudável. Diante dessa realidade, as partes estão tratando o caso de forma amigável, com diálogo e respeito, buscando uma solução que preserve o melhor interesse da criança, mantendo o convívio e o afeto com ambas as famílias.
Nosso foco é a proteção emocional e o bem-estar da menor, acima de qualquer disputa entre adultos.”
Atenciosamente,
Dr. Ilvan Silva Barbosa"
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