'A cada aula, a gente transforma alguém': professor do Pará medalha de ouro em olimpíada internacional fala sobre o poder de ensinar
15/10/2025
(Foto: Reprodução) Professor do Pará que ganhou medalha de ouro em olimpíada internacional fala sobre o poder de ensinar
Agência Pará
"A cada aula, a gente transforma alguém”. É assim que o professor Romis de Sousa Moraes, de 34 anos, resume o impacto do trabalho que escolheu exercer no interior do Pará.
Alfabetizado pela própria irmã em uma comunidade da zona rural de Ourilândia do Norte, no sudeste do estado, ele é hoje um dos nomes de destaque da educação paraense.
Em 2024, conquistou a medalha de ouro na Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr), sendo o único representante da região Norte entre os premiados.
Neste 15 de outubro, Dia do Professor, Romis fala com orgulho sobre a jornada que o levou da zona rural a uma olimpíada internacional.
“A educação foi um divisor de águas na minha vida. Ela pode mudar realidades, cidades e pessoas”, afirma.
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Da zona rural à sala de aula
Romis foi alfabetizado pela própria irmã e longe dos pais, porque na comunidade onde morava não havia escola.
“Minha irmã, que me ensinou tudo, morava em outra região. Para aprender a ler e escrever, precisei morar com ela. Foi um período difícil, porém marcante”, relembra.
“A educação pode transformar vidas”, diz Romis.
Agência Pará
A vocação para ensinar não surgiu de imediato. Segundo Romis, ele não cogitava ser professor no início, porém fez um curso gratuito de matemática ainda quando jovem e então decidiu seguir carreira.
"E aí tudo mudou. Comecei a pegar gosto pelo ensino, pela matemática e decidi abraçar a profissão", relembra.
Medalha, intercâmbio e orgulho de representar o Pará
Em 2024, Romis recebeu medalha de ouro da Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr) e participou do intercâmbio técnico e cultural para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco), na Universidade Normal da China, em Xangai.
Romis recebeu a premiação em Brasília, durante cerimônia promovida pelo Ministério da Educação.
Paraense Romis Moraes está entre os medalhistas de ouro na Olímpiada de Professores de Matemática
Fábio Nakakura/MEC
A experiência de intercâmbio fez Romis conhecer práticas que agora tenta aplicar em sua escola.
“O que mais me impressionou foi o modo como eles trabalham em equipe. Os professores planejam juntos, dão aula uns aos outros e depois avaliam o desempenho. Isso ajuda a melhorar o ensino e o aprendizado”, diz.
Durante a viagem, o professor fez questão de levar a bandeira e a camisa do Pará.
“Tenho muito orgulho do meu estado. Sempre digo que onde vou, levo o nome do Pará comigo”, conta.
Projetos e inovação com inteligência artificial
Atualmente, Romis lidera um projeto pedagógico que usa metodologias ativas e inteligência artificial como ferramentas para estimular o protagonismo dos alunos do ensino médio. O objetivo é que, ao fim do ciclo escolar, o jovem tenha clareza sobre o que quer.
“Se quer estudar fora, abrir um negócio ou seguir outra carreira. A escola deve ajudar o aluno a decidir seu caminho”, explica.
O projeto está inscrito na 3ª edição do Prêmio Educador Transformador, e o professor se prepara para novas etapas da seleção.
Os desafios e as motivações de ensinar no interior
Mesmo após os reconhecimentos, Romis continua morando e lecionando em Ourilândia do Norte. Ele reconhece as dificuldades de trabalhar longe dos grandes centros, mas optou por ensinar no local onde recebeu as oportunidade.
“O Pará é imenso e muitas informações demoram a chegar até nós. Falta assistência, mas estamos avançando. Ainda há muito a melhorar”, afirma.
Apesar dos obstáculos, o que o mantém motivado é o contato com os alunos.
“É gratificante quando um ex-aluno manda mensagem dizendo ‘Professor, me formei. Obrigado!’. A gente planta sementes e, quando elas florescem, é emocionante", diz.
Sonhos e recados para o futuro
Para Romis, a educação pública paraense precisa de políticas mais consistentes, especialmente no ensino de matemática, uma das áreas com os piores índices de aprendizado no país.
“Meu sonho é ver uma matemática mais acessível e prazerosa, que ajude o aluno a pensar e resolver problemas. Isso muda tudo”, afirma.
E no Dia do Professor, ele faz questão de deixar uma mensagem aos colegas de profissão:
“Que a gente possa comemorar e refletir. Mesmo não sendo uma profissão tão valorizada, sabemos que a cada aula impactamos vidas. Temos uma missão linda: transformar a sociedade”, reflete.
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